ESPAÇOS

Princesa Adedoyn​

Em visita ao Ilê Oba L´Okê, no ano de 2018, onde recebeu o nome de Iya Abotilê,  “a mãe que cobre/cuida da casa”, a princesa Adedoyn Talabi Faniyi, atualmente principal responsável pela preservação da floresta sagrada às margens do rio Oxum na cidade de Oxobô na Nigéria – considerada Patrimônio Mundial pela Unesco no ano de 2005 – depois de percorrer as instalações do Ilê Oba L´Okê, resumiu que o que havia visto e observado atentamente por ela não poderia ter sido criado apenas por um ocidental. Disse, então, que a materialização de tanta beleza seria, acertadamente, uma inspiração do Orixá Oxum, declarando à comunidade o Ilê Oba L´Okê como uma verdadeira obra deste Orixá que, segundo alguns itans, teria sido a primeira artista do Universo, inventando a música e as artes visuais. A Casa do Rei e Senhor das Alturas, atualmente, reúne um dos maiores acervos de arte sacra afro-brasileira, formado por esculturas, painéis, objetos, mobiliário, fontes, indumentárias, instrumentos musicais e utensílios de cozinha ritual.

Barracão

O barracão é o espaço onde se desenrolam as festas públicas nos Terreiros de Candomblé. É nele que os Orixás, em dias especiais, recebem as pessoas.

O barracão do Ilê Oba L´Okê está sob a guarda de Bara Ojunilê, uma das invocações de Exu que significa “aquele que olha, vela e toma conta da casa.” A escultura, situada do lado direito de quem entra, possui aproximadamente dois metros de altura e traz nas mãos um ogó, espécie de bastão ou porrete, um dos símbolos por excelência de Exu. Bara Ojunilê é saudado pelas pessoas ao entrar e ao sair do Terreiro, ofertando-lhe dinheiro.

O barracão do Ilê Oba L´Okê possui várias esculturas de Oxoguiã sobre um cavalo nas colunas, além de diversas máscaras africanas. Em revoada, esculturas de garças sobrevoam os atabaques, os quais são incrustados com figuras de Oxoguiã e outro símbolo da criação, o camaleão. Camaleões laminados com folhas de prata ornam a cadeira principal, que é dedicada a Oxoguiã e fica no centro do barracão, compondo o trono de Oxalá, ladeado por duas esculturas, uma de Ogum e outra de Oyá, Orixás da família do Babalorixá. Atrás da cadeira de Oxalá, na parede, encontra-se o painel mais importante da comunidade que resume a maior celebração da casa: a festa do pilão.

Ainda no barracão, há outro lugar de destaque, que fica do lado esquerdo ao trono de Oxalá: a Cadeira da Iya Egbé. Esta é ocupada, desde o início, por Odete Trindade. Por trás do seu assento, há um painel, onde se pode ver Obaluaiyê, Orixá a que foi consagrada, reluzindo como um sol, e Iewa, a dona da visão, ancestral da Iyalaxé da Casa, Maria Verônica. Ao lado desse painel, há outro, retratando os Orixás Oxumarê, Nanã e Ossaim.

Praça de Obaluaiyê

Uma das saídas do barracão leva à Praça de Obaluaiyê, que assim é chamada, porque é o local onde acontece anualmente a cerimônia dedicada a ele e a sua família, chamada Olubajé. Na Praça de Obaluaiyê está a Casa de Exu, geminada com o Ilê Odé ou a “Casa dos caçadores” que abriga os Orixás Ogum, Odé e Oyá. Nesta casa, a escultura de Oyá emerge de uma cabeça de búfalo.

Ainda nessa Praça, há a Casa de Obaluaiyê, onde moram com ele: Oxumarê, Nanã e Ossain. Esta Casa possui uma fonte consagrada a Nanã e Oxumarê, onde as águas saem de conchas, caem numa bacia e retornam. A frente do templo de Obaluaiyê é coberta por trepadeiras que o protegem de olhares curiosos.

Casa do Conselho

Ao lado dos atabaques, fica a Casa do Conselho, ou “quarto do jogo” como é chamado. Onde o merindilogum (jogo de búzios) é lançado para se saber a vontade dos Orixás.  O quarto do jogo abriga o ojubó de Ajê Xalunga. Ajê é a irmã mais nova de Yemanjá e filha de Olokum. Uma máscara de Olokum, laminada com folhas de ouro, faz parte do assentamento de Ajê, Orixá do dinheiro e do comércio.

Alameda dos Orixás

A outra saída do barracão dá acesso ao local batizado de “Alameda dos Orixás”. Este espaço que se alcança após subir uma pequena rampa é uma espécie de corredor que faz a ligação entre a parte de dentro do Terreiro e o barracão. Aqui, podem-se ver cabeças de elefantes, sob esculturas de guerreiros e guerreiras africanas, além de telas dos Orixás, pintadas a óleo por Rodrigo Siqueira.

Cozinha

Ao final da Alameda dos Orixás, do lado direito, fica a cozinha. A cozinha é um lugar reservado e de acesso restrito, aberto às pessoas de fora apenas uma vez por ano, por ocasião de uma festa dedicada a ela, chamada “Festa da Cozinha”.  A Festa da Cozinha abre o calendário das Festas do Ilê Oba L´Okê.

Casa de Xangô

Bem próxima à cozinha está a Casa de Xangô. A Casa de Xangô possui um painel em formato de um machado de duas lâminas, formado por uma das invocações da mãe de Xangô entre nós, Iyamassê sobre um cavalo, ladeada por duas pessoas e dois edun ara (pedras de raio) e camaleão que descem em direção à cabeça dela. 

A Casa de Xangô, como em alguns templos de Oyó, abriga Yemanjá, que, na Casa do Rei e Senhor das Alturas, é cultuada em torno de uma fonte, ladeada por esculturas que representam Odô, os rios, e Ossá, as lagoas. Somam-se a estas, golfinhos que saltam sobre a Mãe dos Orixás que carrega nas mãos: um abebe no formato de uma meia lua e uma estrela; e na outra, uma espada.

Uma escultura de Xangô encontra-se sobre um enorme pilão, que sustenta os seus odun ara (pedras de raio) na Casa do Rei e Senhor das Alturas.  Um kolabá, espécie de bolsa de couro ornamentada de búzios e miçangas, pende do pescoço da escultura dedicada a Xangô, e tiras de pano recaem sobre suas insígnias, dentre elas, a coroa de Dadá ou Adê Bayanni, que fica ao lado de sua mãe Iyamassê. O templo de Xangô reúne os elementos de seu culto introduzido pelos yorubás de Oyó no Brasil.

Casa de Oxum

A Alameda dos Orixás dá acesso também à Casa de Oxum e à Casa de Oxalá, que são geminadas. Na frente dessas casas, há duas máscaras, de dois metros por 50 centímetros, trazendo inscrições dos odus Ejionile, Ofun, Oxê e Obará.

Na Casa do Rei e Senhor das Alturas, Oxum é adorada numa fonte formada por águas que descem em forma de cachoeira, que saem de conchas e percorrem caminhos desviados por pedras semipreciosas. Oxum, no Ilê Oba L´Okê, é representada por uma sereia grávida. Dentro de sua barriga, há uma luz que nunca se apaga, significando o poder gerador de vidas presente em todas as mulheres.  As águas da fonte de Oxum vieram do Rio Oxum e foram recomendadas pela princesa Adedoyn Talabi Faniyi, quando o Babalorixá Vilson Caetano e Rodrigo Siqueira estiveram em visita à cidade de Oxobô, capital do Estado de Oxum na Nigéria. A sombra de um Oxibatá, planta que se assemelha a vitória régia, que sustenta a escultura de Oxum, nadam carpas douradas em águas cristalinas. Recebem culto na Casa de Oxum três Orixás que estão na origem de rios que possuem seus nomes: Erinlé, Logunedé e Iewá. É na Casa de Oxum que as mulheres invocam proteção, onde, também, Ibeji é cultuado. Dela, todos os anos, sai o presente às Águas, ocasião em que se desenrolam ritos secretos do culto de Iyaxeke.

Casa de Oxalá

A Casa de Oxalá é a principal no Ilê Oba L´Okê. É dela que se preside o culto aos chamados Orixás das Alturas ou Orixá N´lá, e de onde sai anualmente a Procissão do Pilão, que, como já foi dito, é a principal festa da casa. A Festa do Pilão rememora a história de Ejibô, um dos nomes de Akinjole, fundador desta cidade. Ela traz presente também a relação com a colheita e com a agricultura. No Ilê Oba L´Okê, ela é a última festa de um ciclo que se desenrola durante dezesseis dias chamado “Águas de Oxalá”. Durante este período, a casa se cobre toda de branco e, sob um alá estendido na porta de entrada, celebram-se Oduduwa, ancestral fundante dos yorubás, Obatalá e Oxoguiã, ao lado de outros como Orixá Okô e Yemowo.

Na Casa de Oxalá, à frente de um painel que conta a história da criação por Oxalufã, há uma escultura, em tamanho natural, de Oxoguiã atravessando uma fonte sobre um cavalo, empunhando sua espada e uma mão de pilão. Na fonte, carpas albinas passeiam sobre pedras brancas que remetem aos tempos imemoriais quando a criação foi presidida por estes Orixás.

Espaço de extremo segredo: o Axé e o Ibó

Há ainda, no Ilê, espaços protegidos dos olhos das pessoas que sequer são mencionados, como o Axé, ou o local onde se fica recolhido durante a iniciação, e o Ibó. Este último é o local onde são adorados os antepassados da Casa.